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quarta-feira, 13 de março de 2013

Ai Weiwei

Materinha minha publicada na edição de fevereiro da GQ Brasil:



Dissidente e teatral
A primeira retrospectiva brasileira do chinês Ai Weiwei traz centenas de fotografias e vídeos que representam sua obra questionadora


No último dia 21 de janeiro, Ai Weiwei tinha postado exatos 86.483 tweets. É muito mais que o apresentador brasileiro Luciano Huck, por exemplo, que escreveu 7.217 mensagens com no máximo 140 caracteres e Barack Obama: o presidente dos Estados Unidos, no dia de sua posse, tinha chegado aos 8.314 tweets. O curioso é que, para atingir essa marca, Ai Weiwei não é um geek e menos ainda um adolescente com tempo para navegar pela web. Ele é um artista à procura de uma forma de expressar sua arte, que apostou na rede social para fugir da censura. O regime comunista chinês o manteve encarcerado por 81 dias sob alegação de evasão de divisas e tirou seu site do ar. A obra de Weiwei – que é arquiteto, escultor e fotógrafo, além de blogueiro e twitteiro – não fala, grita. Grita a favor da transparência e da democracia na China, tanto que foi eleito pela conceituada revista Art Review uma das três maiores personalidades das artes em 2012. Sua obra mais impressionante, Kui Hua Zi, consiste em uma tonelada de sementes de girassol esculpidas à mão em porcelana, e foi leiloada por nada menos que US$ 782,5 mil em outubro de 2012. Diferentes mas não menos impactantes são suas fotografias e seus vídeos, que estarão reunidos na retrospectiva Ai Weiwei - Interlacing, no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, de 07 de fevereiro a 14 de abril.
“Depois de toda essa arte autorreferente e centrada em si mesma que temos tido desde os anos 90, é revigorante ver um artista que lida com a sociedade, com assuntos que dizem respeito a nós todos”, disse à GQ Urs Stahel, curador da mostra. Ele distribuiu as obras em 11 grupos. Entre eles, Fairytale Portraits. Em 2007, Weiwei levara à cidade alemã de Kassel 1.001 cidadãos chineses de todas as classes sociais para posarem para essa série de retratos ao vivo, durante o evento Documenta. “Queria fazer algo que se relacionasse com a vida real de pessoas comuns", disse. Imagens sensíveis compõem a seção Beijing Photographs, como uma foto da artista Lu Qing (que viraria sua esposa) levantando sua saia. A imagem foi feita em junho de 1994 para comemorar os cinco anos do ápice do movimento estudantil na Praça da Paz Celestial. Em contraponto, a série Study of Perspective tem um espírito bem mais sarcástico: sua mão esquerda com o dedo médio erguido diante de monumentos que as pessoas costumam venerar, como a própria Praça da Paz Celestial e a torre Eiffel. É tudo uma questão de perspectiva, e a de Weiwei é sempre questionadora. Quem visitar a mostra no MIS vai poder ver isso de perto. “Ele é político em seu pensamento, minimalista em sua arte e teatral em sua vida”, resume o curador Urs Stahel.