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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Enquanto eu esperava...


O cenário
A sala de espera de uma ginecologista, em algum lugar da zona oeste de São Paulo




Os personagens
Cinco ansiosas pacientes, duas secretárias aflitas e uma médica atribulada




O enredo
Uma das pacientes é uma mulher de cerca de 40 anos, cabelos cacheados, aparentemente aflita, fala ao telefone com alguém (marido? namorado?). “Não, ainda não fui atendida. (silêncio) Pois é. Ainda não sei”. Ela entra na sala para a consulta e demora cerca de 40 minutos. Sai ainda mais aflita.


Outra delas sou eu. Trinta e poucos anos, consulta para exames de rotina, angustiada pelo atraso de duas horas e devorando uma revista nesse meio-tempo.


Uma terceira paciente é uma senhora (eu chutaria 60 anos...) que chega com o marido. A sala de espera está tão lotada que o pobre coitado não tem nem aonde sentar. Desce e vai aguardar na portaria, depois de direcionar um olhar doce para a esposa.


Chega, a seguir, outra senhora, lá pelos seus 50, acompanhada da filha (35? 37?). Ambas conversam sobre viagens. “Portugal, talvez”, diz a filha. E ficam mostrando matérias nas revistas que folheiam enquanto partilham de nossa sofrida espera em uma manhã de sexta-feira de sol.


A última paciente chega chamando toda a atenção para si. Uma senhora elegante, com uma bela calça azul marinha de algodão, bem larguinha e fresca, por volta de 50 anos, que já chega perguntando: “quanto está atrasado? Mais de meia hora...ihhhhh, não sei se vou poder esperar”. A secretária, muito pacientemente responde: “Senhora, não temos mais nenhuma data para esse ano. A agenda da doutora está lotada até 20 de dezembro e ainda não abrimos a agenda do ano que vem”. E a “distinta senhora” começa a folhear a agenda da secretária mostrando possíveis vagas no lotado diário de trabalho da dra. Sandra. “E esse dia?”. A secretária, segurando o riso: “É sábado senhora. Graças a Deus não trabalhamos nesse dia”. Depois de tanto “causar”, a paciente se senta e espera sua vez.


O problema é que ela foi chamada antes de mim, e fui calmamente relatar o caso à secretária, que já estava esgotada de tanto atender ligações e repetir sempre a mesma ladainha: “Senhora, não temos mais nenhuma data para esse ano. A agenda da doutora está lotada até 20 de dezembro e ainda não abrimos a agenda do ano que vem”. Ao falar com as secretárias, falei que já estava lá há duas horas e meu chefe não devia estar gostando muito do meu atraso. A verdade é que, além dessa preocupação com o horário, eu estava mesmo era aflita para passar logo por essa tortura pela qual todas nós, mulheres, passamos (ou deveríamos passar) anualmente.


Que tortura é essa? Ela começa quando precisamos marcar a consulta (aqui em São Paulo isso significa dois meses de antecedência pelo menos). Continua no momento em que percebemos que a espera vai ultrapassar uma hora (e ela sempre ultrapassa) e atinge seu ápice quando precisamos deitar naquela cama. Mas vou poupá-los dos detalhes sórdidos e terminar essa história por aqui, acrescentando a ela um final feliz. A médica me pareceu ótima. Segura (o que é fundamental) e atenciosa (o que já se tornou raro, infelizmente). Deu todas as informações de que eu precisava e me fez sair de lá aliviada. Pelo menos até a consulta do ano que vem.

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