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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Os velhinhos de Zurique

O maior relógio de torre de igreja da Europa

Passeando em Zurique, em apenas um fim de semana, recolhi na minha memória a imagem marcante de três velhinhos. A primeira, eu encontrei nas primeiras horas na cidade. Parei para lhe perguntar (em inglês, claro, porque meu alemão se resume a “ich liebe dich”) como fazia para chegar na Banhoffstrasse e ela, ao invés de simplesmente me direcionar com um “vire à direita e siga em frente”, resolveu me acompanhar escadaria acima, mesmo com as sacolas que trazia em mãos e a idade avançada. Isso para me mostrar algo que eu só veria no guia no dia seguinte, afinal, havia programado aquelas primeiras horas apenas para flanar pela cidade: o maior relógio de torre de igreja da Europa. Aliás, Zurique quer ter “o maior” tudo da Europa, é muito engraçado. Em seguida, me falou: para chegar à Banhoff você pode ir pela direita ou pela esquerda dessa pracinha, mas eu recomendo que vá pelo lado direito e suba as escadas: lá você vai ter uma vista inesquecível da cidade. Achei um doce essa velhinha e saí pensando em como é bom “se perder” em uma cidade desconhecida e não “se prender” em roteiros pré-definidos.
A segunda senhorinha não trocou uma palavra comigo, mas fiquei impressionada com seu look: um vestido roxo-púrpura envelope, pelos joelhos, com um colar de duas voltas de pedras verdes. Chic, chic, chic. Me arrependi de não ter tirado nenhuma foto.
O terceiro foi o que mais me surpreendeu. Estava perdida no bairro histórico de Niedeldorf (lindo, lindo, vale muito se perder naquelas ruas estreitas, cheias de comércio charmoso e cafés idem) e à procura do Cabaret Voltaire (para quem não sabe, um cabaré onde dizem ter nascido o dadaísmo e que hoje se transformou numa descolada galeria com obras desse movimento artístico). Fui até uma igreja ali perto e encontrei um senhor com cara de “local”. Quando perguntei onde ficava o Cabaret, ele fez questão de me acompanhar. Até aí, nada muito surpreendente, visto que havia vivido uma situação parecida na véspera. Eis que ele me sai com uma pergunta, no mínimo, inesperada: “O Cabaret Voltaire é famoso? Você veio até aqui para conhecê-lo?”. Enquanto eu esboçava um “sim”, ele desandou a falar: “porque o governo gasta uma fortuna para manter esse museu. Eu não vejo nenhum valor. Eu conversei com pessoas que viveram naquela época (cerca de 1915, para quem ficou curioso) e elas me diziam que essas pessoas que criaram o dadaísmo eram um bando de marginais, que ficavam bebendo pelas ruas, depois iam a esse bordel e bebiam mais ainda. Como tinha muitos russos no meio do grupo, e “da” em russo significa “não”, eles ficavam bebendo e dizendo “da, da, da”. Foi assim que surgiu o nome dadaísmo. Tem cabimento?”. Eu apenas sorri. Quando chegamos à porta do Cabaret, ele me perguntou: “Você já leu algum texto do dadaísmo?”. Eu, sem graça e sem tempo de pensar, menti: “Já”. E ele conclui: “Então você é mais inteligente do que eu” e, soltando um suspiro, saiu apressado e, certamente, injuriado.

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