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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Stella McCartney

Entrevista publicada na revista IstoÉ Platinum, edição agosto/setembro.
Gente, eu falei com a mulher! E ela é mesmo incrível! Vejam a matéria!

A lady da moda


Para muita gente, as músicas dos Beatles, de Stevie Wonder, dos Rolling Stones e de Michael Jackson têm uma miríade de significados. Para Stella McCartney, essas são as canções que escutava, ao vivo, quando os amigos dos seus pais se reuniam em sua casa. “Isso não me parecia ‘louco’ naquela época. Eu só estava me divertindo com os amigos de papai e mamãe. Exceto, talvez, pelo Michael Jackson. Certamente eu sabia quem ele era!”, contou em entrevista exclusiva à Platinum um dos maiores nomes da moda mundial. Crescida em uma fazenda no interior da Inglaterra, vegetariana desde os 7 anos e filha de uma mulher que se mostrou forte até o fim, Stella gosta de dizer que seu maior exemplo foi Linda McCartney. “Minha mãe me influenciou através das roupas que usava e da forma como se vestia. E também me inspirou pelo jeito destemido que conduzia sua vida. Para mim, este é o jeito mais moderno de ser uma mulher – um jeito muito real de feminilidade”. Eis a palavra-chave para entender o jeito Stella de ser: feminilidade. “Se comparada a outros designers ingleses, ela escapou da fantasia aristocrática, e criou sua moda baseada no olhar feminino, para uma mulher urbana, que não tem medo de ser sensual e não abre mão do conforto”, explica Flávio Bragança, coordenador do MBA em Produção de Moda da Universidade Veiga de Almeida.



Essa é uma boa descrição de seu estilo, suas criações e seu comportamento. “Com um olhar contemporâneo, ela deu continuidade à elegância despretensiosa iniciada por Chanel, e apurada por Yves Saint Laurent”, completa Bragança. Mãe de quatro filhos, chegando aos 40 anos, ela só se recusou a responder uma pergunta de nossa entrevista: a que questionava se, como toda mulher, estaria entrando na crise dos 40. Mas Stella pode se dar o luxo de não falar a respeito. Ela é hoje diretora criativa da grife que leva seu nome e que, desde o nascimento, em 2001, faz parte do grupo Gucci. Um nome tão valioso que é cobiçado por gigantes da indústria da moda, como H&M, Adidas e C&A. Cada parceria que faz com uma delas rende dividendos financeiros e, principalmente, em termos de imagem. “Stella personifica perfeitamente sua marca. Ela esbanja frescor, é uma mulher dos novos tempos. É muito verdadeira em sua atitude vegetariana, sustentável e de preocupação social”, diz Carlos Ferreirinha, presidente da MCF Consultoria de Luxo.


Com um poder tão grande nas mãos, é normal se perguntar: afinal, o que restou da garotinha de cabelos loiros e olhos azuis que se tornou a estrela do clipe de Maybe I’m amazed, composta por Paul McCartney para a banda Wings, sucessora dos Beatles? “As pessoas sempre acham que eu era uma criança ‘rock’n roll’, mas eu frequentei escola estadual e tive uma infância bem normal”, diz. “Fui criada em uma fazenda orgânica no campo e toda minha família era vegetariana, então foi natural que eu me engajasse em uma moda ética. Eu não podia ser hipócrita”. Esse, por sinal, é o lado mais conhecido de Stella: a preocupação ética e com o ambiente. Em suas criações não entram pele nem couro natural e seus produtos de beleza não são testados em animais. “Ela é a designer de moda mais famosa do mundo a construir sua marca com produtos desenvolvidos a partir de uma atuante consciência ecológica”, completa o professor Flávio Bragança.


Mas essa complexa mulher não pode ser analisada apenas por essa característica. Ela foi encarregada, por exemplo, de desenhar o uniforme de todas as equipes esportivas inglesas para as Olimpíadas de 2012. “Traduzir o orgulho da minha nação em roupas é uma honra incrível. É, ao mesmo tempo, um desafio pesquisar as técnicas necessárias para produzir peças que ajudem a manter a dignidade dos atletas mostrando sua força”, diz. O projeto é apenas mais uma faceta dessa criadora que tem sob sua tutela linhas de sapatos, bolsas, óculos, lingeries, produtos de beleza e, mais recentemente, roupas infantis. “O universo infantil mais do que nunca acessa em tempo real as novidades que acontecem no adulto. Ao lançar essa linha, Stella segue mais do que uma tendência, ela acompanha uma realidade”, diz o consultor Ferreirinha. Apesar de manifestar orgulho por suas raízes britânicas, ela não esconde o encanto com o Brasil. Adora nossa caipirinha, diz que se inspira em Oscar Niemeyer e adorou a nossa Rua Oscar Freire.


Pode-se dizer que a admiração é recíproca: as brasileiras adoram o estilo feminino de Stella, que tem um pezinho no casual chic e outro na sofisticação. As peças de sua grife são vendidas por aqui na NK Store do RJ e na de SP. Para se ter ideia do sucesso da marca em território nacional, o número de peças da coleção outono-inverno 2011/2012 que chegou à NK dobrou em relação às anteriores. E o espaço dedicado à grife no interior da loja vai ser modificado para dar conta de tantas novidades. “O que as brasileiras mais gostam é o que ela faz de melhor: a alfaiataria”, diz Natalie Klein, proprietária da loja. “Os blazers são super bem cortados, as calças caem maravilhosamente bem... e as clientes já chegam na loja procurando por essas peças que viraram marca registrada dela”, completa Natalie. Por enquanto, as roupas da marca só podem ser encontradas mesmo na NK, pois não há nenhum plano concreto para que se abra uma loja própria em Terras Brasilis. Qual seria o motivo? “Pura estratégia”, responde Carlos Ferreirinha. “A operação da marca foi ajustada dentro do próprio Grupo Gucci não faz muito tempo. O Brasil é muito oneroso e a marca precisa antes ganhar escala mundial para ser viável financeiramente por aqui”. É torcer para essa realidade mudar logo e a gente ter ainda mais opções e poder ver, sem sair do país, um universo como o apresentado na recém-inaugurada loja de Roma, a poucos passos da Piazza di Spagna, com todo o charme nonchalante que só Stella McCartney sabe ter.

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