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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pierre Cardin

Ficou curioso para ver a matéria sobre o Pierre Cardin, que foi capa da IstoÉ Platinum 25, edição de junho/julho. Dá uma olhada no link. Nem preciso dizer que eu amei fazer, né?

PS.: estava impossível de ler, só com lupa.
Eis o texto:
Pierre Cardin - passado e presente
Seria fácil começar a falar de Pierre Cardin por suas frases de impacto como “a mulher é como uma flor e o vestido, um vaso” ou então “o que se espera de um estilista é que ele modifique o mundo pela estrutura da roupa, pelo corte e pela linha”. Poderia ser inspirador mencionar suas principais contribuições com a moda, como a criação do prêt-à-porter e a coleção Cosmos, que inaugurou a visão que temos até hoje de um estilo futurista. Não seria difícil mencionar os estilistas que foram influenciados por sua obra, como o francês Jean Paul Gaultier, o português Felipe Oliveira Baptista (hoje à frente da Lacoste) ou o brasileiro André Lima. O difícil é traduzir o que Cardin – que passou pelo Brasil em abril a convite da Mix Brand Experience – representa para a moda em poucas palavras. Mais do que criar formas novas, como o vestido-bolha e golas que desafiam a volumetria, ele desenhou todo um estilo de vida. “Tudo pode me inspirar durante o dia. Mas é à noite, quando fecho os olhos, que começo a ver linhas e cores”, contou à Platinum. “Penso nas roupas como uma forma de arquitetura”, explicou o irrequieto estilista, que aos 88 anos não para. Se por um lado, nem cogita se aposentar; por outro, pensa em colocar sua marca à venda, segundo afirmou ao jornal francês Le Figaro, por 1 bilhão de euros. Entretanto, Cardin não teme enfrentar novos desafios. No momento, emprega sua criatividade em outra esfera e é justamente a arquitetura que ganha sua atenção.
Sua mais nova empreitada é o Palais Lumière, complexo de 200 metros de altura, que abrigará 1800 apartamentos, mil vagas de estacionamento, 10 cinemas e 12 restaurantes. Está sendo construído em Veneza e inaugura em 2012. Os próximos devem sair em Las Vegas e Xangai, e ele tem fôlego para dizer que adoraria conceber um para o Rio de Janeiro. Trata-se de um trabalho que tem ocupado seus três últimos anos e terá de tapetes e sofás até copos e talheres criados por ele. “Acredito que esse seja meu último grande projeto: o mundo Pierre Cardin”, comemora. “Sempre quis e creio que temos que realizar quando a vontade chega”.
E monsieur Cardin sempre fez o que quis. Em 1959, escandalizou ao introduzir a primeira coleção de prêt-à-porter de que se tem notícia. A ousadia resultou na sua expulsão da Câmara Sindical da Alta Costura. Uma sequência inesperada na carreira de alguém que tinha participado – quando trabalhava na Maison Dior – da criação do New Look, em 1947. Mas isso não o abalou. Sempre em busca de inovações, conta que ia a museus para ver o que já tinha sido criado e fazer diferente.
Quem presenciou de perto essa ânsia por novidades foi a brasileira Maria Bourgeois, atualmente presidente da ONG Comitê pela Vida, que foi modelo e musa de Cardin na década de 60. Ela já desfilou com o vestido vermelho que tinha cones sobre os seios – e que mais tarde inspiraria Jean Paul Gaultier -, posou com o primeiro look criado para a coleção Cosmos, de 1964, e também com o traje que Jackie usou no casamento com Onassis. Não lhe faltam recordações. “Ele era muito rigoroso. A gente só podia faltar ao trabalho se estava morta”, disse divertida à Platinum. Ela conta que o chefe a chamara para um almoço no consulado britânico em Paris com ninguém menos que a rainha Elisabeth II. “Ele me avisou de última hora e eu entrei em pânico: como iria fazer com o cabelo, a maquiagem?”. A solução foi mais simples do que imaginara: o próprio Pierre Cardin a ajudou. A simplicidade do mestre apareceu em outros momentos, como quando ia comprar frango assado, vinho e baguete para que a equipe comesse durante a madrugada, durante intermináveis sessões de fotografia. “Tenho muito orgulho de ter passado por tudo isso”, diz Maria.
Ela não é a única a ter lembranças dessa época. O cineasta Cacá Diegues dirigiu Cardin no filme Joanna Francesa, de 1975. O estilista que sonhava ser ator se saiu bem no papel de um cônsul francês e impressionou o diretor. “Ele é um artista sensível, capaz de compreender uma filmagem difícil como aquela, mesmo não tendo experiência. E estávamos filmando em condições precárias, no interior de Alagoas, durante um verão de mais de 40 graus à sombra. Ele enfrentou tudo com muita disposição e elegância”, disse Diegues à Platinum. Depois das gravações da película, Cardin retornaria ao Brasil ainda uma dezena de vezes, mas independentemente disso, sempre foi muito presente em nossa moda.
“Ele tem uma linguagem geométrica e, ao mesmo tempo, orgânica, que me inspira. Cardin é uma aula viva de como administrar os negócios. Ele criou um prêt-à-porter com ótima distribuição e grande apelo comercial”, enumera André Lima, estilista que desfila suas coleções no São Paulo Fashion Week. Outra lição que Cardin deixou para estilistas do mundo todo é a forma como criou um lifestyle. Seu império vai de linhas de objetos de decoração e restaurantes (comprou o clássico Maxim’s, em Paris) a um teatro, o Espaço Cardin. Nada que se compare à penetração da marca nos anos 60 e 70, quando teve cerca de 50 butiques pelo mundo – hoje mantém apenas uma, na capital francesa, e prefere trabalhar com multimarcas. Na época, optou por um processo de expansão que incluiu um licenciamento de marca tão abrangente que a fez se afastar do universo do luxo. “Eu queria popularizar a minha grife. Tinha um sonho comunista e queria que todos tivessem acesso às minhas criações. Ironicamente foi esse sonho que me deu dinheiro de verdade”, diz. Cardin assinou produtos tão diversificados quanto uma água mineral e um avião. Por essas e outras, afirma que não existe algo que não tenha feito, mas não resta dúvida que sua paixão é a moda. “Ela está em tudo, reflete quem somos, de onde viemos, nossa idade e até nossa profissão. Se tivesse que escolher uma só atividade seria esta”.
E nessa área, sua importância é indiscutível. Suzy Menkes, uma das críticas de moda mais conceituadas do mundo, disse que ele expressou a criação de uma cultura jovem nos anos 60. André Lima também exalta suas contribuições, mas admite que o ideal seria que a marca apostasse em jovens executivos, que trouxessem um olhar mais contemporâneo. “Modernizar a marca agora seria um salto gigante”. Um dos passos para isso já foi dado. Cardin desfilou nas duas últimas semanas de moda de Paris, voltando atrás na decisão que havia tomado em 2000, quando deixou de participar do evento, decepcionado com a velocidade que suas criações eram copiadas. Quando pergunto se ainda fica nervoso ao subir em uma passarela, ele responde que isso já virou hábito. O relógio acelera e nossa entrevista está terminando. Sabendo que ele se mostra apreensivo a respeito do futuro e chegara a comentar sobre a ausência de um sucessor que honre seu legado, arrisco uma derradeira questão: Como ficará a moda amanhã? “Isso não sei. Sei que o que importa é o estilo. E isso eu tenho, não me interessa se gostam ou não. Eu não copio os outros. Sou Pierre Cardin”.

A ENTREVISTA:
“O termo Alta Costura não quer dizer mais nada hoje em dia”
Confira os principais trechos de nossa conversa com monsieur Cardin:

Platinum: Como foi o início de sua própria maison?
Cardin: Apresentei minhas primeiras peças, em 1950, em um porão no meu ateliê em Saint-Germain-des-Prés. As pessoas assistiram mal acomodadas, em banquinhos. Muito diferente dos meus luxuosos desfiles na Dior... Mas eu era jovem e amava moda, acho que deu certo por isso.

Como o senhor vê a moda hoje?
Ela está nas mãos dos jornalistas e das instituições financeiras. As marcas pagam muitas páginas de anúncios e acabam aparecendo nos editoriais de moda. Eu prefiro aparecer porque estou realizando algo novo.

Como é o estilo da mulher brasileira em sua opinião?
Elas são elegantes. Tenho muitas clientes na minha maison em Paris.

Elas têm um estilo emblemático?
Hoje em dia não se fala em estilo local. Todas as mulheres belas, jovens e ricas têm, um mesmo estilo. É global.

Elas se vestem como as francesas, então?
Algumas mulheres se vestem muito mal na França, não é uma questão de nacionalidade. Elegância é uma atitude natural.

Insisto: as brasileiras são elegantes?
Sim, basta observar aqui ao nosso redor.

A Alta Costura vai acabar?
As jovens de hoje trabalham e não podem ter uma criação da Alta Costura, não é prático. A sociedade mudou. Sei que a criação é necessária, mas ela também se manifesta no prêt-à-porter. O termo Alta Costura não quer dizer mais nada hoje em dia.

Já pensou em se aposentar?
Jamais. Meu trabalho é a minha razão de viver, afinal, estou um pouco velho para o amor (risos).

Um comentário:

  1. Amei que eu li em primeirííííííssima mão esta reportagem.
    Orgulho master de você!
    beijão

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