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segunda-feira, 5 de julho de 2010

A beleza negra


Ontem, um lindo dia de sol, eu e marido acordamos com vontade de parque. Muito verde, um pouco de sombra natural, brisa, lago, enfim, a ideia era explorar as delícias de um belo passeio ao ar livre. Fomos direto ao parque do Ibirapuera, nosso preferido. Em meio à nossa caminhada, escuto um batuque, uma música que parecia conduzir as batidas do meu coração e sem pensar duas vezes fui em direção a ela. Marido, que sabe que curto um agito, nem protestou e foi junto. Era uma apresentação de música e dança, gingado e pura emoção do lado de fora do museu afro-brasileiro, que fica dentro do parque. O ritmo - e o cheirinho de acarajé - era irresistível e perguntamos ao segurança do lugar do que se tratava. E ele respondeu: é a abertura de uma exposição sobre a arte do Haiti e, sempre que começa uma nova exposição aqui no museu, oferecemos um coquetel gratuito, querem entrar?
Alguém tem alguma dúvida? É claro que entramos. A música era realmente linda (é incrível como o som do atabaque me provoca uma saudade não sei de quê), cantada com emoção, acompanhada nas palmas por algumas pessoas presentes, e os pestiscos mais caprichados do que a abertura de exposições de muito galerista metido a besta por aí. Aproveitamos a deixa, é lógico, para conhecer o museu, e não demos conta de ver tudo! Tão grande e espaçoso (e carente de guias, essa é uma falha, devo confessar) que ele é. Entre as obras expostas, reproduções de esculturas e pinturas de igrejas de Minas Gerais, trajes típicos de entidades do riquíssimo candomblé e também de escravas (sim, roupas são minha paixão em qualquer ambiente e sempre chamam minha atenção), fotografias de emocionar e objetos artesanais, como as coroas usadas na festa do dia de Reis - me corrijam se eu estiver errada - no nordeste do Brasil. Fotografias de negros ilustres provocam reações diversas: impossível não rir diante dos trejeitos de Grande Othelo, não suspirar na frente da foto de Elza Soares toda produzida e linda, não sonhar com um belo futebol diante de Garrincha e Pelé. Também fazem parte do acervo permanente do museu a história da Lei Áurea e jornais (que vergonha alheia de saber que isso existiu nesse caldeirão cultural e étnico que é o Brasil!) que eram feitos exclusivamente para os negros, cerca de 20 anos depois da abolição da escravatura por aqui (tá, tá, não precisa ir ao Google, foi em 1888). Uma bela aula de história ao vivo. E de graça. É ou não é para nos encher de orgulho? Saí de lá com o coração feliz, pois o dia foi ainda melhor do que eu havia programado. E hoje, estou o dia todo na cabeça com uma música do Jorge Aragão que eu adoro, chamada "Identidade", que diz mais ou menos assim:
"Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história"

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