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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Picadinho é o novo salmão


Eu adoro escrever sobre moda. Também tenho verdadeira paixão pela gastronomia. E hoje de manhã, lendo a revista Menu deste mês me deparei com uma nota que me fez pensar em como moda e gastronomia se relacionam de diversas formas. A primeira, e mais óbvia, é como em ambas poucas pessoas lançam tendências e muitíssimas as seguem. Não estou dizendo - entendam bem - que não existem bons e criativos estilistas e chefs. É claro que existem verdadeiros criadores, artistas que mostram ao mundo seu estilo, suas origens, seu apreço estético e - literamente - seu bom gosto em tudo o que produzem, seja na cozinha, seja entre fios e agulhas em um ateliê.
Hoje quero falar de um outro tipo de profissional, o que nada cria e tudo copia. Para quem acompanha a área gastronômica através de revistas, livros e eventos, fica óbvio, mas acredito que mesmo quem vai a um casamento uma vez por ano percebe o que estou dizendo. Pense comigo: há cerca de 10 anos, se fosse convidado para um evento bacana (e não estou falando aqui de comidas populares ou que se difundiram por serem gostosas e de bom preço, como pastéis e pizzas), você podia ter certeza que encontraria entre os pratos do bufê ou as porções do coquetel algo com tomate seco e rúcula, fossem elas tortinhas, finger sandwiches, quiches (gente, pelamordedeus, é quiche e não quiRRRRche) ou massas. Há cerca de 40 anos, o coquetel de camarão era onipresente e sinônimo de riqueza (contraída recentemente, diga-se de passagem).
Dando um pequeno salto na história, nenhum evento que envolvia comida, incluindo uma simples ida ao restaurante, há cerca de cinco anos, passava ileso aos funghi secchi. Com o passar dos anos, a moda gastronômica parece se renovar com a velocidade da luz e, desde então, os alimentos presentes em toda e qualquer refeição em festas, eventos e restaurantes se modificam também rapidamente. Das porções servidas em mini-copinhos de plástico aos bem-casados e cupcakes. Entre os salgados, o salmão foi explorado em suas diferentes formas, das ovas à pele, passando, é claro, pelo preparo na chapa, no forno, em massas e cru, na forma de sashimi ou temaki. Quem não gosta de peixe sofreu as consequências, sobrava uma opção tímida com carne vermelha e olha lá. Cadê a criatividade dos chefs? Eu entendo que ingredientes comprados em levas maiores acabam custando menos, mas por favor, né? Dá pra colocar pitadas de criatividade nessa comida?
Pois a nova onda gastronômica é buscar um retorno às origens. Não estou falando aqui de chefs talentosíssimos como o Rodrigo Oliveira do Mocotó ou o Alex Atala - um dos primeiros a compreender a importância de se criar uma gastronomia verdadeiramente brasileira. Eles realmente pesquisaram, buscaram informações e CRIARAM pratos que trazem esse espírito caseiro. O problema maior é que vieram multidões de chefs achando essa ideia bacana e sem o menor trabalho de adaptar receitas, dar a sua "cara" para elas resolveram inadvertidamente copiar. E aí acontece o que temos visto no último ano e o que li hoje de manhã na Menu: mais um restaurante em que o carro-chefe é o picadinho (picadinho chic, é como eles adoram chamar). Ou, com algumas variações, o bom e velho PF, com arroz, feijão, bife e batata frita.
Helloooo, se vou comer fora de casa, quero aproveitar para ex-pe-ri-men-tar, e não para comer o mesmo de sempre. Principalmente, busco viver uma experiência única, em que eu não consuma exatamente o que sei cozinhar em casa com ingredientes baratos mas que, no restaurante ou no bar, sai a preços assustadores. No mínimo intrigante essa nova moda, não? Não seria mais fácil criar algo diferente do que já existe por aí do que correr atrás do prejuízo e plagiar uma ideia que já deu certo?
Sabe que isso realmente me faz lembrar do mercado da moda? Mas isso já é assunto para outro post...

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