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sexta-feira, 18 de junho de 2010

E ele se foi...

Não é triste saber que nunca mais teremos poesias como esta abaixo?

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Para concluir, um (muito) breve resumo do que foi José Saramago:
Ateu e integrante do Partido Comunista Português, o escritor nasceu em 1922, em Azinhaga, uma aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses. Autodidata, já trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção em uma editora. Foi o único escritor de língua portuguesa a ganhar um Prêmio Nobel de Literatura. Ele faleceu hoje de manhã, aos 87 anos, de falência múltipla dos órgãos. Triste, muito triste.

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