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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma consulta muito engraçada, não tinha tempo, não tinha nada


Tem dias - e tenho certeza que se você é mulher, trabalha (muito), recebe seu (curto) salário e faz parte da classe média deste país vai concordar comigo - em que a gente se sente indisposta. Mais do que isso, se sente acabada, esmagada, destruída. Parece que um trator passou por cima da gente. É o cansaço de trabalhar no escritório e cuidar para manter a casa em ordem, a preocupação com os pequenos problemas cotidianos das pessoas que amamos (e alguns problemas que não são tão pequenos assim), as nossas aspirações, ambições e, por que não?, probleminhas também. Mas algo ainda pode piorar e esse algo se chama Unimed. E aqui, prezado leitor, sinta-se à vontade para trocar a palavra "Unimed" pelo nome de qualquer outro plano de saúde, caso concorde comigo.
É simples pensar: entre todas as contas e impostos que já rugem para a classe média como um leão assustador pronto para atacar, incluem-se os cerca de 200 reais mensais destinados ao plano de saúde. Esqueça todos os impostos que vc paga (e a CPMF que pagou por anos) porque eles não são revertidos para a sua saúde, a não ser que seu passatempo preferido seja passar horas numa fila com outras pessoas doentes sendo mal atendido. Ou, é óbvio, que não tenha os 200 reais para pagar no dito plano.
Ok, retomando o raciocínio. Se você já está se sentindo mais por baixo do que barriga de minhoca, nada pior do que precisar de um médico, certo? Seja porque está doente ou, no meu caso, porque precisou fazer uma consulta para saber o grau exato dos óculos. Tudo bem, não é nada urgente, mas o fato é que você precisa ir. E para ir, precisa primeiro localizar um médico. Então, você confia no site do seu plano de saúde e pensa: se for em um bairro bacana - embora eu precise pegar mais trânsito ou gastar mais em ônibus e táxi - o consultório deve ser pelo menos limpo. Sim, porque já fui a uma médica na Lapa e não vou nem comentar o estado do piso, da maca e dos sofás da sala de espera. Retomando (notaram que estou meio dispersa hoje? rs) o oftalmologista. Cheguei lá, depois de 30 minutos de ônibus (e um mês na espera para marcar uma mera consulta), e na recepção não tinha nem ar condicionado. Um clima abafado e úmido, que era a entrada para um consultório em que os equipamentos deviam ter mais ou menos a minha idade.
- Senta aqui, diante desse equipamento. Hum, hum, hum, hum. Tá. Senta nessa cadeira. Tá enxergando? O que você vê? Melhor assim ou assim? Assim ou assim?
Eu, monossilábica:
- Sim, assim. Melhor assado. Doutor, sabe, estou aqui para ouvir uma segunda opinião, pois não sei se meu grau diagnosticado pelo outro médico está correto. Além disso, ando com dor de cabeça.
-Olha, você tem 0,75 grau e ele diagnosticou 1 grau de miopia, mas 0,25 não fazem muita diferença. O período de adaptação aos óculos dá mesmo dor de cabeça. Ah, e sobre a ardência que você diz estar sentindo na vista, é São Paulo. A secura do ar é fogo mesmo.
Eu, já irritada com o fim dessa consulta que não durou mais de 15 minutos:
-Tá, mas faço o quê? Eu já pingo colírio lubrificante três vezes ao dia...
E ele me responde:
-Pinga quatro vezes, três não adianta.
É claro que depois dessa fui embora, afinal ainda tinha pela frente um longo dia de trabalho, cuidados com a casa, compromisso noturno e a esteira que, vejam só, não deu tempo de fazer ainda. É ou não é para sentir uma raiva, vamos dizer assim, "febril"?

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