quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Piruetas invisíveis
Eu nunca fiz balé. Nunca rodopiei sobre sapatilhas, nunca me equilibrei sobre barras, jamais rodei meu tutu (fala com biquinho, hein, gente? É francês!) por um salão, nunca exibi meus cabelos presos em um palco. Não sei fazer pas-de-deux, demi-plié, pas de bourret... Talvez lá pelos meus cinco ou seis anos eu tenha feito algumas aulas, mas com a vida errante que meus pais levavam (não, eles não eram hippies e nem ciganos, meu pai é juiz mesmo) de uma cidade do interior para a outra às vezes em um período de apenas quatro meses, era impossível muitas vezes encontrar professora de dança, quanto mais de balé. Algumas tentativas de jazz (aquele, dos anos 80, estilo Flash Dance) mais tarde, e acabei desistindo. Não tinha nada a ver comigo, afinal, cadê a touquinha de renda, o coque, as sapatilhas de lacinho, o tutu, o collant, a delicadeza dos passos, a firmeza dos braços, a beleza da música clássica? Não estavam ali. Com o passar do tempo, os estudos foram ocupando todo o meu tempo e os passeios da adolescência deixaram para trás de vez o sonho de dançar balé. Será mesmo? Não sei. Quando morava em Curitiba, a visita anual ao festival de dança de Joinville fazia reacender o sonho já na entrada da primeira bailarina no palco. Depois de adulta, conversando com amigas, percebo que muitas delas que tiveram a oportunidade de fazer a dança são apaixonadas por ela até hoje e sofreram por ter que deixar as aulas para assumir o frio e cruel mundo capitalista (brincadeirinha...hehehe). Sim, porque balé pode ser lindo, mas implica em uma série de renúncias e dedicação integral, então em um certo momento da vida, elas foram obrigadas a escolher entre o vestibular e a carreira artística. Entre minhas amigas, todas ficaram com o vestibular. Mas até hoje suspiram diante de um Lago dos Cisnes, de um Serenade, de um Quebra-Nozes... Eu não consigo me imaginar em cima de um palco, afinal, é tarde demais para isso; mas acalento ainda o desejo de um dia poder experimentar piruetas, rodopios e saltos e, é claro, um tutu, um par de sapatilhas, um collant e um coque. Quem sabe um dia?
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recentemente quase voltei para o balé...bateu uma saudade das aulas e espetáculos!
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