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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um texto inspirador para a quinta-feira


Já falei aqui no blog sobre como um texto bem escrito me surpreende, emociona e inspira. Hoje recebi um boletim muito legal que circula entre os jornalistas, chamado Jornalistas &Cia. Coordenado por Eduardo Ribeiro, o J&Cia está completando 15 anos e lançou uma edição especial, onde traça um perfil de profissionais que fizeram -e fazem - a história do jornalismo. Entre eles, um que eu admiro muito, Caco Barcellos. Para homenagear esse gênio da escrita, da reportagem e da investigação o J&Cia se esmerou e publicou um perfil inspirador, que não resisti e preciso dividir com vocês. Confiram:
O pessoal do jornal Versus achou graça quando aquele rapaz gaúcho apareceu na redação pilotando um Gurgel branco com um adesivo onde se lia “Imprensa”. Era meados da década de 1970 e o que ele queria ali era escrever, ainda que fosse para ganhar pouco ou nada. Em plena ditadura, o jornal era um sucesso da contracultura. O nome do rapaz era Caco Barcellos, um ex-taxista de Porto Alegre que usou o dinheiro das bandeiradas para custear a faculdade. Versus era produzido e dirigido majoritariamente por uma equipe de gaúchos, comandada pelo já renomado Marcos Faerman. “Caco chegou a São Paulo com a cara, a coragem e alguns contatos”, conta o também economista Paulo de Tarso Venceslau, um dos dirigentes da publicação. O garoto logo impressionou os conterrâneos e outros editores da grande imprensa. “Ele metia a cara mesmo. Não queria nem saber. E era persistente: ia atrás, levantava histórias e tinha bom faro”, lembra Paulo. Da imprensa alternativa para a grande imprensa foi um pulo. Caco era bem jovem em 1976, mas já carregava a fama de repórter de ponta. Foi uma das estrelas da constelação levada pela Editora Abril naquele ano para o lançamento de um ambicioso projeto editorial com foco na cobertura da televisão brasileira, a revista TV Guia, que fechou menos de um ano depois de ter sido apresentada ao mercado com pompa e circunstância, como uma sucedânea de InTerValo, sucesso de público nos anos 1960. Tinha entre 27 e 28 anos quando recebeu a missão de fazer a matéria de capa da edição de número 1: um perfil detalhado de Sílvio Santos, que, à época, havia rompido com a Globo e partia para o seu próprio canal de televisão, a então TVS, que mais tarde viraria SBT. Veio o dia da estreia e a matéria de capa de Caco foi o destaque. Eduardo Ribeiro, diretor deste J&Cia e integrante da equipe da revista, lembra: “Conversando com ele, logo depois, a rodinha de estagiários quis saber como ele se sentia sendo o escolhido para missão tão nobre. Muito sereno, simples como sempre foi, respondeu: ’Caros, sinto uma frustração muito grande, porque mais da metade da matéria foi cortada, por pressões da cúpula, por causa do conteúdo crítico da reportagem’.
Ela mostrava Sílvio e o império que já havia construído em todos os seus matizes, como deveria ser uma reportagem com personagem tão famoso e polêmico, como ele era. ‘O que aí está é um arremedo do trabalho que fiz, infelizmente. Começamos mal‘. Ficamos todos embasbacados com aquela afirmação e com a tranquilidade com que ele falou, sem qualquer constrangimento, dentro da própria redação. Sua trajetória posterior só confirmou o que vimos no começo de sua carreira, ainda que de forma fugaz. Ficou a lição e o reconhecimento pelo trabalho sério e a visão crítica do repórter”. Pelo livro Abusado, uma imersão no mundo de grandes grupos que comandam o crime organizado no Rio de Janeiro, Caco ganhou o Prêmio Jabuti de livro de não-ficção em 2004. Em 1992 já havia desconstruído a Polícia Militar de São Paulo com o polêmico Rota 66, também agraciado com o Jabuti. Nos últimos 15 anos, levou para casa quatro Comunique-se, três Vladimir Herzog e um Embratel. Atualmente no comando do programa Profissão: Repórter, da TV Globo, Caco está no ambiente em que se sente melhor. Livre para pautar, produzir, viajar e contar histórias.


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