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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Palavras, apenas. Mas que palavras!


Se existe algo no mundo que me toca profundamente, esse algo é um texto bem escrito. Não tem perfume, sabor, música ou textura que me emocione tanto quanto um texto bem pensado, ricamente elaborado, finamente descrito, divinamente produzido, poeticamente construído... Se for escrito a mão, então, melhor ainda, mas isso já é artigo bem mais raro. De qualquer forma, essa semana, lendo a revista Vogue francesa do mês de abril, meus olhos pararam, brilharam e se emocionaram quando cheguei a esse texto, de Patrick Mauriès: (OBS: Vou reproduzir um trecho dele com MINHA livre e espontânea tradução)
"No exato instante em que escolhe desaparecer, a lenda de Alexander McQueen [lembram? falei dele alguns posts abaixo] toma corpo. E não perdemos nada se apostarmos que ela irá se expandir ainda mais. Pois nossas culturas, que só fogem da realidade da morte para melhor admirar sua imagem, não amam nada com a mesma intensidade que amam esses destinos partidos e as vidas interrompidas na flor da idade, da qual só resta a face de uma eterna juventude. E em matéria de lenda, existem muitas em Alexander McQueen: na história desse menino de 3 anos que desenha o vestido da Cinderela no gesso das paredes de seu quarto, nessa figura de mãe radiosa que nunca lhe deixa, nesse percurso fulgurante de imóveis no East End ao bairro chic de Mayfair e a um solário no Sussex, nesse encontro providencial com uma musa inquieta que terminará tragicamente [para quem nao sabe, McQueen se suicidou uma semana após a morte da mãe e três anos após o suicídio de sua fada madrinha, a stylist Isabella Blow], na intransigência raivosa de um criação que vem, no entanto, coroar o sucesso e que pontua um abrupto impasse".
Ainda ao falar da mãe de McQueen de uma forma muito sensível, Patrick termina o texto assim:
"Ela assiste, radiante, na primeira fila, todos os seus desfiles. Ela lhe faz até mesmo confessar, em um pungente diálogo publicado pelo The Guardian, que ele só teme uma coisa: morrer antes dela. Ela falece dia 2 de fevereiro de 2010. Ele escolhe partir um dia antes dos funerais daquela que sempre quis lhe dar tudo".
Lindo, lindo, né?
Não deixa de ser um post em homenagem ao dia das mães ;-)
PS: e por falar em escrita, esse texto prova que por mais que uma notícia já tenha sido divulgada, ela pode ser retrabalhada e trazer algo (nem que seja admiração por quem escreveu essas belas linhas)

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